Confira!

Esse eu já li


Eu devia ter mais ou menos 13 anos. O colégio em que estudava era muito bom: era bem organizado, tinha professores e funcionários competentes e dedicados, e entre outras vantagens, a biblioteca era bem vasta. Eu era nova naquele colégio e conhecia poucas pessoas, não havia ainda me enturmado muito, mas o primeiro laço que criei foi com aquela biblioteca, que ocupava o espaço de duas salas de aula juntas e fazia me fazia querer passar o maior tempo possível lá dentro. Era mobiliada com várias estantes encostadas às paredes; algumas mesas redondas com cadeiras; uma poltrona e um sofá super-confortáveis cheios de almofadas (quer eram muito disputados); o balcão da bibliotecária, onde ficavam as informações de todos os alunos e o livro de registros; e no fundo, em outro balcão, ficavam expostos alguns trabalhos de alunos, como pinturas e maquetes.
Ali dentro havia de tudo: desde os livros mais comuns, doados pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), dicionários, enciclopédias, antologias poéticas variadas, até alguns best-sellers que eu acredito terem sido doados por alunos. A fila para os empréstimos e devoluções estava sempre comprida, chegando, às vezes a se estender porta afora, congestionando um pouco o corredor.
Eu entrava ali para devolver e pegar livros novos, ou simplesmente para ler e refletir durante o intervalo, quando tinha a necessidade de ficar um pouco sozinha, afastada das amigas que fui fazendo ao longo do ano. Quando tinha a oportunidade de me encostar no sofá, chegava até a cochilar por alguns minutos, acordando assustada com o sinal.
Fazia pouco tempo que havia me tornado uma leitora constante, e meu gosto não era tão variado como é hoje. Entretanto, eu lia com avidez, e era rápida. Nunca cheguei a atrasar uma devolução, ou a renovar o tempo de empréstimo. Quando queria escolher um livro novo, demorava muito, às vezes chegando a me atrasar na volta para a sala de aula. Quando pedia alguma indicação à bibliotecária, cujo nome não me recordo, ela geralmente pegava algum exemplar da pilha de volumes que haviam sido devolvidos naquele dia, e me mostrava, perguntando:
- O que você acha desse?
- Eu já li.
- E este aqui?
- Também já li.
- E esse, que aquela menina acabou de devolver?
- Já li também.
Esse diálogo se repetia com frequência. Ela me indicava aqueles que eram emprestados com maior frequência, porque, é claro, agradavam mais. Entretanto, eu havia lido muitos, fosse naquele ano, fosse em aos anteriores. Nas raras vezes em que ela me indicava algo que eu não conhecesse, eu o pegava, lia o resumo do fim, me afastava para poder ler as primeiras páginas e dar espaço à fila cada vez maior, e se me interessasse, retornava à fila para poder registrar o empréstimo. Caso contrário, procurava por outra leitura.
A Gincana do colégio teve uma prova que premiaria a turma que tivesse lido mais livros durante o ano. Minha turma ganhou, e acredito ter contribuído bastante, já que minha ficha da biblioteca tinha duas páginas de registros. Até mesmo na penúltima semana de aula, quando todos os alunos leitores estavam recebendo cobranças de devoluções, eu insisti para que pudesse pegar emprestado só mais um livro. A bibliotecária sorriu pra mim, e disse:
- Eu vou deixar, mas só porque eu sei que você vai terminar a tempo!


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