Confira!

"Arthur Schopenhauer (1788-1860) é um dos mais importantes filósofos alemães. Ele achava que o mundo nada mais era do que uma representação formada pelo indivíduo. Influenciou Freud, Nietzsche e Bergson com seu pessimismo e foi o responsável por introduzir o budismo à metafísica alemã. Foi além do idealismo kantiano e tinha em Hegel seu principal opositor. Suas obras mais importantes são O mundo como vontade e representação (1819) e Parerga e Paralipomena (1851). Nesta antologia de ensaios recolhidos de Parerga e Paralipomena, o leitor vai encontrar textos que trazem as mais ferinas, entusiasmadas e cômicas reflexões acerca do ofício do próprio Schopenhauer, isto é, o ato de pensar, a escrita, a leitura, a avaliação de obras de outras pessoas, o mundo erudito como um todo. São eles: 'Sobre a erudição e os eruditos', 'Pensar por si mesmo', 'Sobre a escrita e o estilo', 'Sobre a leitura e os livros' e 'Sobre a linguagem e as palavras'. Embora redigidos na primeira metade do século 19, estes ensaios, ao tratar sobre o mundo das letras, os vícios do pensamento humano, as armadilhas da escrita e da crítica, continuam válidos - hoje talvez mais do que nunca. E, marca personalíssima do autor, são modernos, pulsantes de vida, de inteligência e humor."

Autor: Schopenhauer
Gênero: Filosofia
Número de páginas: 176
Local e data de publicação: Porto Alegre, 2007
Tradução: Pedro Süssekind
Editora: L&PM
*Informações adicionais: edição de bolso
Compre aqui: Amazon | Submarino | Shoptime

Reflexões que permanecem atuais


Recentemente, a faculdade fez com que eu tivesse de ler Olga, um livro que eu já tinha vontade de ler mas que estava acumulado naquela longa lista de livros que a gente pretende ler algum dia, mas que ainda não providenciou a leitura. E o último livro que li foi outra leitura imposta pela faculdade, mas que abracei com curiosidade e disposição de aprender e compreender. Acredito, em primeiro lugar, que A arte de escrever foi um aprendizado em dobro, pois assim que foi recomendado para leitura, despertou minha vontade de adquirir conhecimento.
Eu nunca havia lido nenhum livro de conteúdo filosófico, e portanto, mais do que uma obrigação da faculdade, essa leitura foi um desafio para mim; foi uma oportunidade de continuar atendendo ao propósito do blog, que é o incentivo a vários gêneros e estilos de livros. Como experiência nova, foi extremamente positivo.
Agora, vamos ao livro! A arte de escrever é uma coletânea de textos filosóficos curtos, publicados originalmente no livro Parerga e Paralipomena. Mas os pequenos ensaios contidos nesse livro não são apenas trechos retirados da obra original. Por isso, é um erro da editora afirmar que o texto se encontra em forma integral.
São cinco textos diferentes, mas todos com um assunto em comum: a produção literária e acadêmica da primeira metade do século XIX, em especial a produzida na Alemanha. Esses textos têm título autoexplicativo, e são eles: Sobre a erudição e os eruditos; Pensar por si mesmo; Sobre a escrita e o estilo; Sobre a leitura e os livros; e por fim, Sobre a linguagem e as palavras. Com esses ensaios, a maior proposta de Schopenhauer é fazer uma crítica geral acerca daquilo que era escrito e lido na Alemanha de sua época.
Talvez você esteja se perguntando por que um professor universitário exigiu esse livro como leitura para uma turma de estudantes de jornalismo, no Brasil do século XXI; afinal, estamos falando de um livro escrito há 150 anos, sobre a produção literária e acadêmica de outro país. Então, qual a importância de tais escritos? Acredite, muito do que Schopenhauer afirmou em sua época permanece acontecendo hoje em dia, e muitos de seus conselhos sobre a própria escrita são bastante válidos.

Foto compartilhada no meu Instagram durante a leitura.
Visite @loucuraporleituras ou @lethyd e acompanhe!
"Poucos escrevem como um arquiteto constrói:
primeiro esboçando o projeto e considerando-o detalhadamente.
A maioria escreve da mesma maneira que jogamos dominó.
Nesse jogo, às vezes seguindo uma intenção, às vezes por mero acado,
uma peça se encaixa na outra, e o mesmo se dá com o encadeamento e a conexão de suas frases."
Página 115 - Sobre a escrita e o estilo

A princípio, tive certa decepção com o livro, mas creio, porque, apesar de saber que era uma obra filosófica e tendo lido um pouco sobre isso na introdução, eu criei expectativas a partir do título, e imaginei que se trataria de uma espécie de "manual para escrever bem". Mas, assim que me dei conta de que não era bem isso que eu tinha em mãos, passei a encarar a leitura de outra forma, tentando compreender melhor.
Nos cinco textos que foram separados para a preparação desse livro, o que vamos conhecer são os pensamentos e reflexões de Schopenhauer acerca da escrita. É possível sim apreender muitas coisas que seriam úteis para alguém que gosta de escrever ou que trabalha com isso de alguma forma, mas a maior parte daquilo que apreendemos do livro são aqueles tipos de exemplos do que "não deve ser feito", pois a maior parte do conteúdo é feita de críticas a certos comportamentos que o autor observava em sua época, e que perduram até hoje.
Algumas das ações mais criticadas por Schopenhauer ao longo desses ensaios são, por exemplo: o fato de muitas pessoas escreverem apenas para ganhar dinheiro; o fato de muitos livros serem escritos por alguém que na verdade não tem conhecimento sobre aquilo de que está falando, e está apenas "enchendo páginas"; o fato de muitos editores, tradutores e livreiros estarem mais preocupados com o a potencial de venda dos livros, e não com seu conteúdo; o hábito de alguns críticos literários usarem o anonimato para criticarem obras e escritores de maneira desonesta. Esse último item foi provavelmente aquele com o qual eu mais concordei, e por isso, deixo um trecho aqui para que reflitam: "Usar o anonimato para atacar pessoas que não escreveram, anonimamente é evidentemente desonroso. Um crítico anônimo é um sujeito que não quer assumir o que diz ou o que deixa de dizer ao mundo acerca dos ouros e de seus trabalhos, por isso não assina." (grifo do autor). É nesse momento que nos damos conta do quanto esses ensaios continuam atuais. Afinal, essas coisas todas não continuam acontecendo hoje em dia?
Outras coisas que Schopenhauer afirma, e sobre as quais refleti bastante e concordei, são as seguintes: a crítica a alguns escritores que, na tentativa se serem concisos e dizerem o que necessitam com o mínimo de palavras possíveis, acabam tornando seus textos confusos e ambíguos; a crítica ao mal-uso de prefixos; a reflexão sobre o fato de que nenhuma tradução é perfeita, visto que numa língua jamais vão existir palavras que reproduzem exatamente o mesmo conceito existente em outro idioma. Destaco aqui um trecho sobre isso: "É por isso que todas as traduções são necessariamente imperfeitas. Quase nunca é possível traduzir uma língua para outra qualquer frase ou expressão característica, marcante, significativa de tal maneira que ela produza exata e perfeitamente o mesmo efeito.".
Entretanto, discordei de muitas coisas que li. Em Pensar por si mesmo e em trechos dos outros ensaios, Schopenhauer critica quem lê muito, afirmando que alguém que lê demais não consegue pensar com autonomia, e está sempre reproduzindo aquilo que leu anteriormente. Não acredito nisso. Eu sempre acreditei que a leitura é capaz de enriquecer o nosso conhecimento e nos fornecer bases para nossas próprias reflexões. Acabei tendo mais convicção sobre isso quando entrei na Universidade, pois a produção acadêmica é feita a partir de leituras anteriores. É lendo especialistas e estudiosos que reforçamos a credibilidade de nossos trabalhos e pesquisas; muitas vezes, é a partir de leituras prévias que surgem as nossas inquietações e questionamentos, que depois resultam nos nossos próprios trabalhos.
Ao longo de toda a leitura me senti muito incomodada com a forma que Schopenhauer fazia suas críticas. Existe fundamentação dos argumentos, mas o autor também fez certos ataques às pessoas que estava criticando. Em muitos momentos, ele apenas ofende as pessoas com as quais não concorda. Veja: "[...] é exatamente esse o procedimento dos engenhosos melhoradores da língua na 'atualidade'. Grosseiros e ignorantes, eles realmente acreditam [...]"; "[O francês] trata-se, portanto, do mais miserável jargão romântico, da pior mutilação das palavras latinas [...]"; "[...] suprimir sílabas cujo significado não se entende exige um grau de inteligência que mesmo a pessoa mais estúpida possui.". Por vezes, as críticas também são feitas de forma muito irônica, o que eu não acho honesto. Schopenhauer também fala, em vários momentos, sobre uma suposta superioridade do alemão em relação a outros idiomas. Sempre que eu me deparava com esse tipo de coisa em meio ao texto, achava extremamente arrogante, e na maior parte das vezes, dava risada, porque não conseguia levar a sério. Alguns dos meus colegas, que já haviam lido Schopenhauer, me disseram que ele costumava escrever assim; sabendo disso, não sei se pretendo ler outros textos dele. Entretanto, pretendo fazer releituras de A arte de escrever, porque considerei algumas das reflexões muito válidas. Ignorando tudo o que me incomodou, foi possível extrair muitos conselhos úteis com a leitura.
O livro é curto, e portanto, mesmo uma leitura feita para estudo pode ser terminada rápido. A linguagem usada por Schopenhauer é simples e muito fácil de entender, exceto em trechos em que há palavras e expressões escritas em latim, francês, grego ou outros idiomas. Por vezes, os trechos em grego não estão traduzidos. As reflexões sobre a origem de palavras, em que ele compara os radicais de vários termos em outros idiomas com seus radicais no alemão, também são um pouco difíceis de compreender.
Recomendo o livro para quem gosta de escrever, ou para quem precisa escrever com frequência.

Avaliação geral:


Aspectos positivos: a linguagem é simples e fácil de compreender; o texto é dividido em trechos, que constituem comentários ou reflexões, cada um sobre um tema diferente; muitas das reflexões e críticas feitas pelo autor permanecem atuais, e os conselhos dele sobre a escrita são muito úteis.
Aspectos negativos: ao contrário do que a editora afirma, o texto não é integral, pois trata-se de trechos de outra obra; muitas das críticas feitas pelo autor ofendem e atacam outras pessoas, e são um tanto arrogantes.

Por: Lethycia Dias

4 Comentários

  1. Oie. Primeira vez aqui no seu blog. ♥. Eu também já tive algumas leituras impostas pela faculdade, e assim como você já me surpreendi um pouco. Gostei de algumas. Detestei outras. Mas o importante é experimentar. Sendo sincero, e eu estudo filosofia na faculdade, ainda não tinha ouvido falar deste filósofo em especial. Mas eu simplesmente adorei o trecho que você retirou do livro. Enfim, ótima postagem. ♥

    ACESSO PERMITIDO. ♥
    www.acessopermitido.com

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    Respostas
    1. Olá, Elcimar. Seja bem-vindo ao Loucura Por Leituras!
      A maioria dos textos que leio para a faculdade acabo aproveitando só nos trabalhos e provas mesmo, mas de vez em quando acontece de a leitura me despertar alguma coisa e eu aproveitar aqui no blog, e foi o que aconteceu com esse livro.
      Não tenho muito conhecimento na área. Tive uma disciplina de filosofia no primeiro semestre, mas foi tudo bem rápido e superficial.
      Fico feliz que tenha gostado da resenha e dos trechos destacados. Muito obrigada pela visita e pelo comentário!

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  2. Que resenha IN-CRÍ-VEL!
    Adorei a sua análise e reflexões a respeito da obra!
    Li esse livro para um trabalho escolar no ensino médio e amei!

    Parabéns pelo blog!

    Nathalia
    Blog Dentro das Páginas
    http://dentro-das-paginas.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Olá, Nathalia!
      Fico muito feliz que tenha gostado tanto e achado boa a resenha. Eu não imaginei que poderia impressionar alguém, porque foi uma leitura totalmente nova pra mim... Muito obrigada pela visita e pelo comentário!

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