Confira!

"A identidade de um lugar é marcada por costumes, realizações, desejos, sonhos. Mas essa riqueza cultural muitas vezes se perde com o tempo. No caso de Campinas temos um capítulo à parte e fundamental na história de Goiânia e do próprio Estado de Goiás. A vida que se estabeleceu aqui, mesmo antes da construção da capital, foi a base para uma história que teve continuidade. Era município, virou bairro. Mas preservou sua identidade. Campinas é orgulho para todos que têm suas origens ligadas à região. Muitos se distanciaram geograficamente, mas o coração mantém os fortes vínculos."





Texto apócrifo citado no livro.

Autor: Bariani Ortencio
Gênero: História
Número de páginas: 464
Local e data de publicação: Goiânia, 2011.
Editora: Kelps
*Livro momentaneamente indisponível para compra.


Conhecendo melhor o lugar onde vivo


Nasci em Brasília e vivi por lá até os meus 14 anos, e quando me mudei para Goiânia, não sabia praticamente nada sobre a História de Goiás e da cidade. Eu sabia tão pouco, que costumo dizer que se não estaria estudando na Universidade Federal de Goiás se tivesse feito o vestibular tradicional da instituição, que exigia conhecimentos locais. Por isso, sou grata ao fato de a UFG ter substituído o vestibular pelo ENEM!
Foi por causa dessa falta de conhecimento que acabei comprando o livro História Documentada e Atualizada de Campinas durante uma edição do sarau Sábado no Parque, a cinco reais. A proposta era fazer um resgate de toda a história de Campinas (GO), a cidade que surgiu no tempo do Brasil Colônia e depois se tornou bairro de Goiânia. Eu tinha um desejo de conhecer melhor esse novo lugar onde vim morar, porque mesmo não sendo tão longe, a diferença entre as duas cidades é muito grande. Já tinha ouvido falar daquilo: que o bairro de Campinas, hoje um grande centro comercial em atacado e varejo, existia antes de Goiânia, e fiquei muito curiosa para saber como tudo aconteceu. Fiquei guardando o livro aqui em casa, até que foi sorteado na TBR, há cerca de duas semanas. E agora vou contar pra vocês como foi essa leitura!
Para começar, é bom sabermos que o autor, Bariani Ortencio, é um nome de grande destaque na literatura goiana, e é conhecido também como um grande intelectual. Ele já ganhou prêmios em nível nacional, mas informo também que ele atua nas áreas histórica, tradicional e folclórica (com foco no Estado de Goiás), por isso talvez muitas pessoas não o conheçam como se espera de um autor premiado nacionalmente. Ele veio de Igarapava (SP) e viveu a maior parte de sua vida em Campinas, e até hoje é morador de Goiânia, e inclusive tem uma coluna semanal no jornal O Popular, o mais importante jornal da cidade.
Desde a introdução do livro, Bariani nos informa de que esse livro começou a ser feito na década de 1970, em uma pesquisa de Milton de Morais e Silva (cunhado de Bariani Ortencio). Bariani concluiu o trabalho, publicando-o em forma de livro no ano de 2010, quando Campinas completou 200 anos de fundação.
O livro resgata a história de Campinas desde o início do século XIX, quando algumas famílias saem de Pirenópolis (antigamente, Meia Ponte) e Luziânia (Santa Luzia) em busca de ouro na região do rio Meia Ponte e nas proximidades de Bonfim (hoje, Silvânia). É válido relembrar um pouco da história de Goiás: durante o tempo em que o Brasil era colônia, a região Centro-Oeste foi povoada em devido à mineração, que já não apresentava bons resultados em Minas Gerias; depois, a principal atividade econômica passou a ser a pecuária.
A história parte desde quando Campinas não passava de um povoado com algumas casas de pau-a-pique em situação completamente precária e anti-higiênica, até os dias atuais, passando pela chegada de padres redentoristas vindos da Alemanha para garantir que pessoas leigas deixassem de ser as responsáveis pela Romaria de Trindade; pela elevação da vila a município; pela decisão de se construir a nova capital do Estado nas proximidades de Campinas e a chegada de novos habitantes e o desenvolvimento consequente.

Foto compartilhada no meu Instagram durante a leitura.
Visite @loucuraporleituras e acompanhe!

"Passadas quase sete décadas da perda de autonomia, integrantes de famílias tradicionais
ainda se sentem nativos do antigo município.
Muitos deles se definem como 'campineiros', ou não perdem a mania de dizer
'vou a Goiânia' sempre que se deslocam ao Centro da cidade."
Artigo de Opinião de Giselle Vanessa, publicado no Dário da Manhã.
Transcrito na página 432.

O livro está organizado em vinte e dois capítulos temáticos, cada um reunindo informações sobre algum assunto específico. Sendo um livro de História, está escrito em terceira pessoa, mas a grande quantidade de textos (artigos de opinião, trechos de diários, depoimentos, etc) transcritos, muitos deles em primeira pessoa, geram certa confusão.
Esse, aliás, é um dos aspectos que me deixou bem incomodada durante a leitura: eu não sabia o que eram textos próprios do autor, o que eram resumos ou paráfrases de textos da bibliografia de sua pesquisa, e nem onde acabava um e começava o outro. Para falar a verdade, o livro contém tantos documentos e textos citados, que eu diria que entre 5% e 10% do texto foi realmente escrito por Bariani Ortencio. O que parece é que ele juntou todos os documentos que pôde, organizou seguindo certa lógica e depois foi "costurando" tudo com alguns escritos próprios.
Olhando por outro ponto de vista, foi uma ótima leitura para que eu pudesse saciar a minha curiosidade, pois consegui entender melhor a História de Campinas e também de Goiânia. Descobri quem foram algumas pessoas que dão nomes a bairros, praças, viadutos, ruas, e prédios públicos em toda a cidade, e compreendi um pouco melhor a organização da cidade e forma como foram surgindo os bairros periféricos, fruto da especulação imobiliária e do crescimento desordenado da população.
Também entendi um pouco melhor sobre como funciona a política em Goiás desde... sempre. Me lembro de ter estudado sobre coronelismo durante o Ensino Médio, e sobre os fazendeiros, ou "Coronéis", que levavam seus empregados para votar no candidato de sua escolha. Há um trecho da página 65 à 67 que descreve isso, e tudo fazia parte de um acordo: se o candidato X fosse eleito, seria fundado o Distrito de Ribeirão.
Foi interessante ver como a cidade se modificou com o tempo: até a fundação e construção de Goiânia, todas as ruas de Campinas era de terra; a cidade era muito pequena, e tinha cerca de 250 habitantes. A natureza da região era muito bonita: Campinas ficava numa terra plana e muito florida, por isso era chamada de "Campininha das Flores"; havia muitos rios, onde era comum as crianças tomarem banho e os adultos pescarem (hoje, estão todos poluídos); a religião católica teve e ainda tem papel muito importante em Campinas, por causa dos padres redentoristas e do Colégio Santa Clara, onde eram educadas as meninas filhas de famílias tradicionais. A Biblioteca Cora Coralina (uma das três bibliotecas públicas de Goiânia) foi fundada em 2000, num prédio muito tradicional que antigamente foi um hotel importante para a cidade. A Praça Joaquim Lúcio, um dos símbolos de Campinas, nem sempre foi como é hoje; o coreto, que é muito bonito, foi destruído na década de 1960 (tendo sido reformado algum tempo antes), e foi reconstruído há mais ou menos uns 15 anos.

Fachada da Biblioteca Municipal Cora Coralina.
Repare que na parte de cima ainda está escrito "Palace Hotel".
Fonte: Reprodução.

Coreto da Praça Joaquim Lúcio, principal praça de Campinas.
Fonte: Reprodução.

Por outro lado, encontrei muitos problemas ao longo da leitura. O primeiro capítulo do livro se estende por 100 páginas apenas reproduzindo documentos oficiais, como leis, decretos, nomeações e exonerações de cargos públicos. Toda essa parte é muito cansativa de ler, e por causa disso eu quase desisti do livro.
Muitos dos textos (notícias de jornal, depoimentos, etc.) contém erros, que não sei dizer se pertencem à sua versão original, ou se ocorreram durante a digitação do livro. Um artigo de opinião do jornal Diário da Manhã foi reproduzido de forma incompleto. Ele começa na página 186, e não continua na próxima página, onde é reproduzida uma notícia do O Popular. Veja as fotos abaixo:

Páginas 186 e 187 do livro.

Fim da página 186. Repare que a frase foi interrompida.

Mais à frente, na página 243, é apresentado um texto de dois parágrafos que já havia aparecido na página 241. Eu até anotei isso na margem do livro:

O trecho mostrado está repetido. Repare na minha anotação.

Também senti falta de notas de rodapé (do autor ou da editora) fazendo comentários ou explicando algumas confusas, que poderiam auxiliar bastante a compreensão da leitura.
Além disso, senti a falta de referências no corpo do texto (isto é: ao longo do livro, sempre que fosse citado algum texto já publicado). As referências bibliográficas estão apenas no final, e no corpo do texto há apenas indicações sobre aquilo que foi publicado no Correio Oficial e nos jornais e revistas. Os demais textos citados não são referidos, não é indicação de número de páginas, o que significa que ao fazer consulta acadêmica, uma pessoa teria de recorrer às obras citadas no fim do livro e simplesmente ler tudo só para encontrar um trecho que lhe interessou. Por isso, não é um bom livro para pesquisa acadêmica.
Eu recomendo o livro para quem mora em Goiânia (no bairro de Campinas ou em qualquer outro bairro), para quem deseja saber mais sobre a história de Goiás, de Campinas e de Goiânia, e para quem tem curiosidade sobre a história da Região Centro-Oeste.

Avaliação geral:


Aspectos positivos: faz um ótimo resgate da História de Campinas e de Goiânia; apresenta informações curiosas sobre pessoas que foram importantes na cidade e que hoje dão nome a bairros, ruas, avenidas e obras públicas; possui um bom acervo de fotografias e textos históricos; está organizado de forma lógica e que facilita a leitura.
Aspectos negativos: muitos dos textos reproduzidos contém erros, sendo que um deles está incompleto e outro está repetido; não contém referências bibliográficas no corpo do texto, dificultando a pesquisa acadêmica.

Por: Lethycia Dias

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