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Resenha: Madame Bovary
"Para escapar à monotonia do casamento e da vida provinciana, a sonhadora Emma Bovary se perde em idealismos, amantes e dívidas. Ao narrar a decadência dessa mulher, e também da sociedade burguesa, Gustave Flaubert nos brinda com o romance moderno por excelência."

Autor: Gustave Flaubert
Gênero: Romance
Número de páginas: 448
Local e data de publicação: São Paulo, 2010
Tradução: Fúlvia Maria Luiza Moretto
Editora: Abril
Onde comprar: Amazon | Extra | Livraria da Folha | Saraiva


Mediocridade e decadência


Esse livro foi mais um daqueles que decidi ler por motivos estranhos: em uma resenha feita pela Isabella Lubrano, no canal Ler Antes de Morrer, eu soube que a obra de Gustave Flaubert havia gerado tanto escândalo quando publicada, que chegou a sofrer censura, gerando até processos judiciais. E foi o suficiente para despertar minha curiosidade. Isso porque, até hoje, a infidelidade é considerada muito normal quando praticada pelo homem - mas quando praticada pela mulher, é sempre um absurdo, uma coisa inaceitável.
Emma Bovary é a personagem principal da trama, embora a história contada não a acompanhe, mas sim ao seu marido, Charles, desde a infância até o fim da vida. Esse foi para mim um grande motivo de estranhamento, visto que as primeiras páginas nos contam de forma breve a juventude de Charles, até que ele se casa pela segunda vez, com Emma. Ela é uma jovem muito sonhadora, grande leitora de romances (especialmente de livros da escola do Romantismo, que foi muito popular no século XIX). Educada em um convento, Emma sonhava com homens galantes, belos vestidos e a suposta felicidade sem fim que uma mulher deveria conhecer ao se casar. Pelo menos, foi o que ela leu nos romances, e durante os primeiros tempos de seu casamento, ela espera pela felicidade.
Mas ela logo começa a se desiludir. Charles é gentil e educado, porém não é o marido que ela sempre idealizou; a cidade em que vivem não oferece os deslumbramentos com os quais ela sonhava; e por mais que tente, por mais que Charles faça suas vontades, ela não se sente feliz. Nem mesmo a filha a deixa satisfeita com a vida: ela dá pouca atenção à pequena Berthe, deixando-a entregue na maior parte do tempo à ama de leite ou à empregada.
É então que começa, pouco a pouco, a decadência de Emma; ela se deixa levar, impulsivamente, por suas ilusões, com dois amantes: primeiro Rodolphe, um homem malicioso e mal-intencionado; depois com o jovem Léon, que se apaixonou por ela desde que a conheceu. As atitudes de Emma, com o passar do tempo, geram uma sucessão de consequências cada vez piores, que terminam de maneira trágica.

Foto compartilhada no meu Instagram durante a leitura.
Visite @lethyd ou @loucuraporleituras e acompanhe!
"No fundo da alma, todavia, esperava um acontecimento.
Como os marinheiros angustiados, lançava sobre a solidão de sua vida
olhos desesperados, procurando ao longe alguma vela branca nas brumas do horizonte."
Capítulo IX - Página 85


O livro é narrado em terceira pessoa durante a maior parte do tempo, com um narrador-onisciente, que revela tanto os acontecimentos da história quanto os pensamentos e sentimentos dos personagens. É assim que conhecemos de maneira bastante profunda a protagonista. Grande parte da narrativa é dedicada aos sentimentos e pensamentos de Emma, que por vezes parecem confusos e até contraditórios; há momentos em que ela parece desprezar o marido; em outros, ela reconhece o quanto ele é bom, apesar de ser um homem simples e sem ambições. Em alguns trechos, ela parece uma pessoa que valoriza apenas as aparências, quando critica os hábitos das pessoas ao seu redor; em outros, ela parece estar à procura de companhias que compreendam seus sentimentos.
A intenção de Gustave Flaubert com esse livro era, realmente, de fazer algumas críticas à sociedade. Assim, ele criou personagens medíocres, sem nenhuma característica especial ou algo que justifique sua existência na história. Nas ações desses personagens estão visíveis mais críticas: é o caso do farmacêutico Homais, que trata Charles com excessiva cordialidade porque espera ter um amigo em quem confiar caso as autoridades saibam que ele costumava atender como médico, o que era ilegal; é o caso do Sr. Lheureux, que faz com que Emma assine promissórias e mais promissórias, contando com os juros que a dívida renderia no futuro; é também o caso do Sr. Guillaumin, que a assedia quando ela lhe pede ajuda financeira. A história de Madame Bovary é inspirada em algo banal: um boato sobre uma mulher adúltera que havia se suicidado. Ele transforma uma simples fofoca em uma grande tragédia, com narrativa impressionante.
No início, eu tive dificuldades para me adaptar à leitura. A história se desenrola de maneira lenta, enquanto Emma vive a primeira fase de sua desilusão; mas, à medida que ela começa a ceder a Rodolphe e recorrer a atitudes cada vez mais desesperadas para se manter perto de seu amante sem ser descoberta, a narrativa assume outro ritmo. Foi a partir daí que não consegui mais largar o livro. O fim da história é, como eu já disse anteriormente, trágico. Talvez não seja muito surpreendente para a maioria dos leitores, mas faz muito jus a proposta de Flaubert de mostrar uma sociedade decadente.
Essa edição da Abril Coleções, em capa dura com aparência de encadernação em tecido, é muito bonita e bem feita, e é uma pena que seja bem difícil de encontrar. A edição inclui notas de rodapé que nos ajudam a compreender termos em outras línguas (como o latim), citações de obras famosas, nomes de filósofos, artistas, e outras personalidades da época. Também está presente no fim do livro um texto de apoio sobre o autor, a obra e os personagens, que me ajudou a entender melhor o que eu havia acabado de ler. A única coisa que eu lamento é ter dado uma "espiadinha" nesse texto enquanto ainda estava lendo, e ter recebido um spoiler enorme. Então, caso você encontre essa edição e se incomode com spoiler's, lembre-se do que eu digo: só leia o texto de apoio depois de terminar.
Recomendo Madame Bovary para quem se interessa pela literatura francesa e por livros clássicos.

Avaliação geral:


Onde comprar:

Aspectos positivos: O narrador-onisciente faz com que o leitor conheça bem os personagens e se divirta ou se impressione de forma mais intensa em vários trechos; os personagens são bem retratados como pessoas com falhas de caráter e segundas intenções, e suas atitudes revelam bem as críticas que Flaubert desejava fazer.
Aspectos negativos: a edição contém alguns erros de escrita e pode ser difícil de encontrar.

Por: Lethycia Dias

8 Comentários

  1. Já quero! rrsrs
    Na verdade estou com esse livro aqui na minha lista, lerei ainda este ano!
    Adoro esses livros que dão bafafá hhahaha, o último que li foi As Relações Perigosas, amei!

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    Respostas
    1. Haha, tive bastante vontade de ler esse livro quando a novela estreou, lembro de ter ouvido falar bastante dele na tv e por aqui na internet. Recomendo que leia mesmo, o livro é muito bom! :)

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  2. Oi, Leth. Eu tenho curiosidade em ler esse livro, como te falei, tô querendo ler mais livros estrangeiros ano que vem, quem sabe eu leia esse.
    Essa edição é muito linda, tanto quanto aquela da Martin Claret, é uma pena que tenha erros de escrita.

    Bjin, Hel.

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    1. Oi, Hel! O livro é muito bom mesmo, eu recomendo bastante.
      Sim, todos esses livros da Abril Coleções eu acho muito lindinhos. Só consegui comprar nessa edição porque tem uma livraria aqui em Goiânia que vende alguns títulos da coleção. Mas eu queria mesmo era ter todos! kkkk

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  3. Que resenha maravilhosa!! Eu já coloquei esse livro na minha lista de livros para ler (em 2017 haha) e um ponto que me deixou bem intrigada é que esse livro foi baseado em uma fofoca, pensei que ela tinha de fato sido viva. No filme Maria Antonieta o rei tinha uma amante e eu pensei que fosse a Madame Bovary, mas talvez não seja mesmo haha. Irei pesquisar mais sobre <3 adoro esses texto que despertam meu lado curioso
    Parabéns pela resenha, muito boa mesmo!!! Quando tiver um tempinho livre passa lá no meu blog? Adoraria receber um comentário seu <3
    http://www.palavrasambulantes.com/2016/11/aquela-mania-de-carregar-o-mundo-nas.html

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    Respostas
    1. Olá, Karolline! Fico feliz que tenha gostado tanto da resenha! Nada me deixa mais feliz do que uma pessoa ficar com vontade de ler um livro que eu gostei e elogiei. <3
      Bom, não assisti a esse filme. Sobre ter sido baseado numa fofoca, era o que dizia o texto de apoio do livro. Lá dizia o sobrenome do marido, se não me engano, mas é claro que Flaubert mudou o nome na hora de escrever. O que eu não sei mesmo é se as coisas nesse "história original" aconteceram da forma que ele colocou, acho que só a traição e o fim da história é que ele fez iguais, mas todas as outras circunstâncias e acontecimentos devem ter sido criação dele... Gostei de especular sobre isso!
      Obrigada pela visita e pelo comentário! <3

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  4. Madame Bovary é um clássico, li esse livro muitos anos atrás e achei ele sensacional, apesar da narrativa um pouco lenta no começo, exatamente como você disse.
    Não conhecia essa edição, confesso que estou viciadíssima em livros de capa dura desde que conheci a Darkside Books.

    Beijos ♥
    www.jadeamorim.com.br

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    Respostas
    1. Ahhh, livros e capa dura são minha verdadeira paixão! Quer me ver tentada a comprar um livro mesmo que eu já tenha ele em casa? É só me mostrar uma edição em capa dura! kkkkk
      Não sei como eu pude demorar tanto pra ler esse livro, mas ainda bem que decidi ler. Não me arrependo nem um pouco!

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